^[[start|Modelos Estatísticos: Abordagem da Verossimilhança]]^ \\ 7. Modelos com distribuição binomial e Poisson \\ ====== Conceitos ====== * Modelos lineares generalizados * Função de ligação * Função logística, probito e logito * Sobredispersão ====== Tutoriais ======= ===== Modelos Poisson: Fecundidade de Solanum sp. ===== A planta //Solanum sp.// é de grande importância econômica. Neste tutorial vamos simular que o número de frutos nas plantas adultas é variável Poisson, com parâmetro $$\lambda$$ fixo ou dependente de co-variáveis. Em seguida ajustaremos modelos Poisson a estes dados simulados. ==== Simulando e estimando o lambda de um modelo Poisson sem variáveis preditoras ==== Uma forma de conferir se a estimação dos parâmetros está correta é simular os dados e verificar se os parâmetros utilizados na simulação concordam com os parâmetros obtidos mediante máxima verosimilhança. ==Passos iniciais== Iniciamos o R e carregamos os pacote //bbmle//, //car// e //MASS//. O pacote bbmle foi criado por Ben Bolker que usa e adequa algoritmos de optimização para obter a máxima verosimilhança dos parâmetros. Se você ainda não tem o pacote instalado use o comando install.packages ("bbmle"). library(bbmle) library(car) library(MASS) Fixamos o gerador pseudo-aleatório de dados para todos obter exatamente o mesmos resultados: set.seed(1234) ==Começamos a simulação:== nplan<-1000 lambda=5 frutos<-rpois(nplan,lambda) Qual é a probabilidade teórica de encontrar uma planta sexualmente madura sem frutos? dpois(0,lambda) Compare com a proporção de plantas sem frutos na amostra simulada: sum(frutos==0)/length(frutos) Para fazer esta avaliação para todos os valores, comparamos a distribuição de probabilidade teórica com as proporções empíricas e: mfrut<-max(frutos) fa<-factor(frutos, levels=0:mfrut) prob.obs<-table(fa)/nplan par(las=1) plot(0:mfrut,prob.obs, xlab="Numero de frutos", ylab="Probabilidade", type="h", lwd=5) Adicionamos os valores teóricos esperados: prob.tr<-dpois(0:mfrut, lambda) points(0:mfrut,prob.tr, pch=21, col="red") Definimos a função de máxima verossimilhança do parâmetro lambda da distribuição Poisson: x<-frutos poisNLL<-function(lambda){ -sum(dpois(x, lambda, log=TRUE)) } Aplicamos a função sobre uma série de valores: xvec<-seq(4.85,5.3, length=1000) LLest<-sapply(xvec,poisNLL) Determinamos o valor de máxima verossimilhança ou equivalentemente os valores mínimos para função de log-verossimilhança negativa por força bruta (procurando o valor minimo da função de verossimilhança negativa em uma serie de valores) e por métodos de otimização numérica usando a função ''mle2''. minLLest<-min(LLest) lambdaLL.fb<-xvec[ LLest == min(LLest)] lambdaLL.nm<-mle2(poisNLL, start=list(lambda=4)) Vamos comparar as estimativas do lambda obtidas com os métodos de força bruta, numéricos e analíticos((já que a média amostral equivale à solução analítica para o MLE de $$\lambda$$ no caso da distribuição Poisson)): lambdaLL.fb lambdaLL.nm mean(frutos) Plotamos a função de verosimilhança e os pontos obtidos: mfrutos<-mean(frutos) LLest2<-LLest-min(LLest) plot(xvec,LLest2, typ="l", xlab="frutos", ylab="loglik") abline(v=mfrutos, col="blue", lwd = 3) abline(v=coef(lambdaLL.nm),col ="darkgray") abline(v=lambdaLL.fb, col="red") ==== Modelos Poisson com variáveis preditoras ==== Em um cenário mais realista, a fecundidade das plantas poderia incrementar-se com um aumento da concentração de nutrientes no solo, por exemplo o fósforo. Pensemos que as plantas se encontram em solos com diferentes graus de concentração de fósforo (mg/kg). Neste caso, lambda deixará de ser um valor fixo e será determinado em função pela variável preditora fósforo, mediante a função exponencial, $$\lambda \ = \ e^{a_0+a_iX_i}$$ Onde $$X_i$$ são as variáveis preditoras. A vantagem desta transformação é que independentemente dos valores da variável preditora, a variável de resposta será sempre positiva, sendo compatível com os valores que o parâmetro $$\lambda$$ da distribuição Poisson pode ter. Estimar os parâmetros usando esta transformação exponencial do parêmetro é equivalente a analisar os dados com um modelo linear generalizado de distribuição Poisson e função de ligação log. Primeiro definimos valores dos parâmetros: set.seed(1234) phos<-runif(100,0,10) a= 1 b= 0.3 x<-phos E então os valores esperados de frutos em função do nível de fósforo, que seguirá uma relação exponencial: ydet<-exp(a+b*x) plot(x,ydet) Agora para simular um processo Poisson sorteamos amostras Poisson com parâmetro lambda igual a estes valores esperados: fec<-rpois(100,ydet) E plotamos nossos dados, que simulam um processo Poisson com valor esperado que é uma função do nível de fósforo: par(las=1) plot(phos, fec, xlab="Fósforo mg/Kg", ylab="Número de frutos") Definimos a função de verosimilhança para este modelo: poisglmNLL = function(a,b) { ypred= exp(a+b*x) -sum(dpois(fec,lambda=ypred, log=TRUE)) } Para estimar a máxima verosimilhança temos que fornecer na função de otimização um valor inicial para os parâmetros a e b. **Pergunta**: Você tem alguma ideia de como obter uma estimativa inicial dos parâmetros? E então otimizamos, com a função mle2: mod.pois<-mle2(poisglmNLL, start= list(a=2.5,b= 0.33)) Conferimos os parâmetros estimados: summary(mod.pois) E os perfis de verossimilhança das estimativas: mod.pois.prof <- profile(mod.pois) par(mfrow=c(1,2)) plot.profmle(mod.pois.prof) par(mfrow=c(1,1)) Numa abordagem frequentista, os perfis são usados para estimar intervalos de confiança dos parâmetros, transformando a log-verossimilhança negativa em uma variável normal-padrão $$z$$ ((z = raiz quadrada da deviance, detalhes na [[http://finzi.psych.upenn.edu/R/library/stats4/html/profile.mle-class.html|ajuda da função profile]])). Esta aproximação à normal é válida se os perfis são parábolas, como parece ser o caso. Aplicando a função ''plot'' ao objeto da classe perfil você obtem perfis na escala desta transformação: plot(mod.pois.prof) As linhas vermelhas neste gráfico marcam no eixo $$x$$ os quantis correspondentes a diferentes probabilidades acumuladas da normal. Estes quantis são usados como os limites dos intervalos de confiança para estas probabilidades. Compare os valores na figura para probabilidade de 95% com os obtidos com o comando: confint(mod.pois) Por fim, plotamos as curvas dos valores esperados de frutos por planta com os parâmetros e suas estimativas: par(las=1) plot(phos,fec, xlab="Fósforo mg/Kg", ylab="Número de frutos" ) a.est<-coef(mod.pois)[1] b.est<-coef(mod.pois)[2] curve(exp(a+b*x),add=TRUE, col="red") curve(exp(a.est +b.est*x), add=TRUE, col="blue", lty=2) #estimada legend("topleft", c("Parâmetro","Estimativa"),col=c("red","blue"), lty=c(1,2)) O que aconteceria se usássemos outro modelo para descrever estes dados? Neste caso sabemos qual é o modelo correto, mas vamos simular esta situação, imaginando que o pesquisador está experimentando diferentes modelos. Usaremos a função de verosimilhança de uma binomial negativa, que permite agregação. Vamos calcular a máxima verosimilhança e comparar os modelos com o critério de informação de Akaike (AIC). negbinNLL<- function(a,b,k){ ypred<-exp(a+b*x) -sum(dnbinom(fec, mu=ypred, size=k, log = TRUE)) } Tentamos um valor inicial de k usando o método dos momentos. Como sabemos que a variância da binomial negativa é: $$σ^2= μ + μ^2/k$$ Então podemos estimar um valor aproximado de k com: med<-mean(x) vari<-var(x) k.init <-med^2/(vari-med) k.init mod.negbin<- mle2(negbinNLL, start=list(a=2.5, b= 0.33, k=k.init)) Conferimos os parâmetros estimados: summary(mod.negbin) Comparamos os modelos com a função AICtab e confira o grau de suporte relativo do modelo Poisson respeito a binomial negativa: AICtab(mod.pois,mod.negbin, delta=T, sort=T, weights = TRUE) O modelo com melhor suporte é o modelo com distribuição Poisson, porém a diferença nos valores do AIC é menor que 2. == Função glm no R == Uma regressão de uma variável Poisson como a que fizemos equivale a um //glm// (([[http://en.wikipedia.org/wiki/Generalized_linear_model|generalized linear model]])) com distribuição Poisson e função de ligação log. Compare os resultados do modelo Poisson que ajustamos com o ''mle2'' com os resultados obtidos com a função [[http://finzi.psych.upenn.edu/R/library/stats/html/glm.html|glm]] do R: glm.pois <- glm(fec~phos,family=poisson(link="log")) summary(glm.pois) summary(mod.pois) AIC(mod.pois) AIC(glm.pois) Cada vez que fazemos um //glm// com distribuição Poisson e função de ligação log, compramos a premissa de uma relação exponencial entre a variável preditora e a variável dependente. ===== Modelos com distribuição binomial: Infestação por Fusarium sp. ===== Agora pensemos que os frutos das mesmas plantas solanáceas são atacados pelo fungo //Fusarium sp.//, murchando-os. Pensemos que esse fungo habita no solo e portanto só ataca os frutos quando eles amadurecem e caem. A probabilidade de infestação dos frutos pode ser constante ou depender de algum fator como por exemplo o grau de umidade relativa do micro-habitat onde se encontra a planta. O número de "tentativas" (parâmetro $$N$$ da binomial) será variável entre as plantas, pois corresponde ao número de frutos que ela tenha. Primeiro descartamos as plantas sem frutos: fec1<-fec[fec!=0] num.plant<-length(fec1) E simulamos o número de frutos atacados por planta: Vamos fazer o grau de umidade do solo na vizinhança da planta variar entre 30 a 100%, com probabilidade uniforme. set.seed(4444) ur<-runif(num.plant, 0.3, 1) Usamos a função logística para determinar e posteriormente simular o grau de infestação do fungo de acordo a umidade relativa do ambiente. Esta função estabelece seguinte relação do parâmetro $$p$$ com as variáveis preditoras $$X_i$$ $$p \ = \ frac{e^{a_0+a_iX_i}}{1+e^{a_0+a_iX_i}}$$ A logística restringe os resultados esperados ao intervalo entre 0 a 1, mesmo que a variável preditora tenha valores muito grandes ou pequenos, por isso é adequada para estimar o parâmetro $$p$$ nos modelos de distribuição binomial. a<- -4 b<- 7 ydet<-exp(a+b*ur)/(1 + exp(a +b*ur)) plot(ur,ydet) frut.mur<-rbinom(num.plant,size=fec1,prob= ydet) O número de frutos intactos é o complemento dos murchos. frut.sau<-fec1-frut.mur Para uma avaliação visual, plotamos os fruto sãos e murchos por planta e ordenamos as plantas em ordem crescente exposição à umidade relativa: datos<-data.frame(frut.sau,frut.mur,ur) datos.ur<-datos[order(datos$ur),] conjun<-datos.ur[,1:2] conjun.m<-as.matrix(conjun) barplot(t(conjun.m),beside=F, col=c("darkgray","darkblue"), ylim=c(0,80), ylab= "Número de Frutos", xlab= "Plantas", cex.names=0.4) legend("topright", c("frutos intactos", "frutos murchos"), col = c("darkgray","darkblue"), pch=c(19,19)) arrows(15.8,62,100,62) text(60,64, "Umidade", cex=1.8) Otimizamos a função de verossimilhança e obtemos os intervalos de confiança dos parâmetros. Como estimamos os valores iniciais dos parâmetros? Uma pista: tem a ver com plotar a razão dos frutos murchos/total dos frutos na escala logit. A função logit lineariza a curva logística. A equação que transforma as proporções (frutos murchos/total frutos) para escala logit é ln(p/(1-p). Definimos a função de verossimilhança: binomNLL<- function(a,b){ prob.det=exp(a+b*ur)/(1 +exp(a+b*ur)) -sum(dbinom(k,size=N,prob=prob.det, log=TRUE)) } Otimizamos: mod.bin<-mle2(binomNLL, start=list(a =-3,b =9), data =list(N= fec1, k = frut.mur)) Alternativamente podemos usar a interface de fórmula da função ''mle2'' para fazer os dois passos simultaneamente: mod.bin2<-mle2(frut.mur~dbinom(prob = exp(a + b*ur)/(1 + exp(a + b*ur)), size = fec1), start = list(a= -3, b = 9)) Avaliamos os perfis de verossimilhança: par(mfrow=c(1,2)) plot.profmle(profile(mod.bin)) par(mfrow=c(1,1)) Finalmente comparamos a função logística simulada com a estimada. No gráfico, o tamanho do ponto e proporcional ao número de frutos que a planta tinha. prop.mur<-frut.mur/fec1 #Proporção de plantas murchas par(las=1) plot(ur, prop.mur,cex=fec1/25, xlab="Umidade relativa", ylab="Proporção Frutos Infectados") a.esti<-coef(mod.bin)[1] b.esti<-coef(mod.bin)[2] curve(exp(a+b*x)/(1+exp(a+b*x)),add=TRUE, col="red") curve(exp(a.esti+b.esti*x)/(1+ exp(a.esti +b.esti*x)), add=TRUE, col="blue", lty=2) #estimada legend("topleft", c("Parâmetro","Estimativa"),col=c("red","blue"), lty=c(1,2)) Compare os resultados usando a função padrão no R, ''glm'' com distribuição binomial e função de ligação logit: glm.bin <- glm(cbind(frut.mur,frut.sau)~ur, data=datos,family=binomial(link="logit")) ====== Exercício ===== Baixe o arquivo {{:biometria:verossim:besouro.csv|besouro.csv}}. Os dados descrevem o efeito de diferentes concentrações de insecticida na mortalidade dos besouros expostos à substância. Estime a probabilidade da mortalidade em função do nível do inseticida, plote a função logistica prevista e estime os intervalos de verossimilhança dos parâmetros. ====== Resumos da aula ====== {{:biometria:verossim:rems_aula_poisson_e_binomial_negativa.pdf|slides aula}} {{:biometria:verossim:pinecones.r|Códigos do exemplo dos cones de pinheiro}} o conjunto de dados está na [[https://collaborate.nicholas.duke.edu/clark/pinecones.txt/view|página do autor]] {{:biometria:verossim:exercicio_besouros.r|Código do exercício besouro}} ====== Pesquisa ====== Indique os itens do tutorial e do texto prioritários para a discussão [[http://ecologia.ib.usp.br/bie5782/doku.php?id=modelos:pesquisa1#modelos_com_par%C3%A2metros_que_s%C3%A3o_fun%C3%A7%C3%B5esmodelos_binomial_e_poisson|aqui]]