Tabela de conteúdos
Uso da Linguagem R para Análise de Dados em Ecologia
7. Noções de Programação em Linguagem S
R: Um Ambiente Orientado a Objetos
Atributos
Até esse ponto do curso, foi visto que existem no R funções, variáveis e vetores. Todos esses ítens são chamados genericamente de objetos.
Veremos no decorrer do curso vários outros objetos do R. A importância do conceito de objeto num ambiente de trabalho de análise de dados é que os objetos possuem atributos, os quais podem variar em função do tipo de objeto.
Vejamos um exemplo.
> zoo
onça anta tatu guará
4 10 2 45
> class( zoo )
[1] "numeric"
> length( zoo )
[1] 4
> names( zoo )
[1] "onça" "anta" "tatu" "guará"
>
O vetor 'zoo' é um vetor de classe 'numeric', de comprimento ('length') 4 e com nomes ('names'): onça, anta, tatu e guará. Classe, comprimento e nomes são os atributos típicos de vetores.
Qualquer vetor sempre terá uma classe e um comprimento, mas o atributo 'names' é opcional:
> b [1] 1 2 3 4 5 6 7 8 > class( b ) [1] "integer" > length( b ) [1] 8 > names( b ) NULL >
A função 'attributes' nos mostra os atributos de um objeto, mas é de uso limitado no caso de vetores:
> zoo
onça anta tatu guará
4 10 2 45
> attributes( zoo )
$names
[1] "onça" "anta" "tatu" "guará"
> b
[1] 1 2 3 4 5 6 7 8
> attributes( b )
NULL
>
Funções
As funções do R também são objetos, mas da classe 'function':
> class( ls ) [1] "function" > class( log ) [1] "function" > class( sin ) [1] "function" >
No caso das funções, podemos associar a elas os argumentos que elas necessitam para serem executadas:
> args( ls )
function (name, pos = -1, envir = as.environment(pos), all.names = FALSE,
pattern)
NULL
> args( log )
function (x, base = exp(1))
NULL
>
Algumas funções matemáticas, no entanto, tem sempre apenas um argumento e são consideradas funções primitivas:
> args( sin )
NULL
> sin
.Primitive("sin")
>
> args( exp )
NULL
> exp
.Primitive("exp")
>
Mundo dos Objetos
Um aspecto importante num ambiente orientado a objetos é que tudo o que o ambiente trabalha são objetos e o ambiente não pode trabalhar com nada que não seja um objeto conhecido. Inclui nessa categoria tudo aquilo que o R apresenta na tela, por isso toda saída do R pode ser guardada num objeto:
> length( zoo ) [1] 4 > zoo.comp = length( zoo ) > zoo.comp [1] 4 > class( zoo ) [1] "numeric" > zoo.class = class( zoo ) > zoo.class [1] "numeric" > class( zoo.class ) [1] "character" > names( zoo ) [1] "onça" "anta" "tatu" "guará" > class( names( zoo ) ) [1] "character" > length( names( zoo ) ) [1] 4 >
Quando o R nos mostra, como resultado de uma operação, valores como 'NULL' e 'integer(0)' ele está dizendo que o resultado é vazio, isto é, não há resultado:
> b [1] 1 2 3 4 5 6 7 8 > names( b ) NULL > b[ b > 10 ] integer(0) >
Veja que o valor 'NULL' é um valor válidos que podem ser utilizados.
> zoo2 = zoo
> zoo2
onça anta tatu guará
4 10 2 45
> names( zoo2 )
[1] "onça" "anta" "tatu" "guará"
> names( zoo2 ) = NULL
> zoo2
[1] 4 10 2 45
> names( zoo2 )
NULL
>
Exercícios
<box 100% left red | Exercício 7.1: Freqüência de Espécies > Considere o vetor com nome de espécies:
> sp
[1] "Myrcia sulfiflora" "Syagrus romanzoffianus" "Tabebuia cassinoides"
[4] "Myrcia sulfiflora"
>
Para obter a freqüência das espécies podemos usar a função '''table''':
<code>
> table( sp )
sp
Myrcia sulfiflora Syagrus romanzoffianus Tabebuia cassinoides
2 1 1
>
Qual a classe do objeto que a função 'table' retorna? Quais são os seus attributos?
</box>
<box 100% left red | Exercício 7.2: Classe da Classe >
Qual a classe do objeto produzido pelo comando 'class( x )'?
</box>
Construindo Funções Simples
A Estrutura Básica de uma Função
Toda manipulação de dados e análises gráficas e estatísticas no R são realizadas através de funções. Entretanto, você não precisa ser um programador experimentado para construir algumas funções simples para facilitar a atividade de manipulação de dados.
A estrutura básica de uma função é:
> minha.funcao <- function( argumento1, argumento2, argumento3, . . .)
{
comando 1
comando 2
comando 3
. . .
comando n
return("resultado")
}
Os elementos dessa expressão são:
- minha.funcao é o nome que a nova função receberá;
- function é a expressão no R que cria uma nova função;
- entre as chaves “{}“ são listados os comandos da função, sempre com um comando por linha;
- entre os parênteses ”()“ são listados (separados por vírgula) os argumentos necessários a função;
- comando return(“resultado”) retorna os resultados, caso falte, será apresentado o resultado do último comando (comando n).
Vejamos alguns exemplos simples:
##criar um vetor de dados com 20 valores aleatórios de uma distribuição Poisson
dados.dens<-rpois(20,lambda=6)
##funcão para calcular média
media.curso <-function(x,rmNA=TRUE)
{
soma=sum(x)
nobs=length(x)
media=soma/nobs
return(media)
}
##Vamos agora preparar uma função mais elaborada, considerando a
##presença e excluíndo NA por padrão, e lançando mensagem na tela
##sobre o número de NAs removidos. Note que é uma função com dois argumentos
##que permite ao usuário tomar a decisão de remover ou não NAs e avisando,
##diferente da função mean()
media.curso <-function(x,rmNA=TRUE)
{
if(rmNA==TRUE)
{
dados=(na.omit(x))
dif=length(x)-length(dados)
cat("\t", dif," valores NA excluídos\n")
}
else
{
dados=x
}
soma=sum(dados)
nobs=length(dados)
media=soma/(nobs-1)
return(media)
}
###calcular a média do objeto dados
media.curso(dados.dens)
##########################################
###função para calcular variância
var.curso<-function(x)
{
media=media.curso(x)
dados=na.omit(x)
disvquad=(dados-media)^2
variancia=sum(disvquad)/(length(dados)-1)
return(variancia)
}
###Calcular a variância de dados
var.curso(dados.dens)
###Tomando dados.dens como a contagem de uma espécie em uma amostra de 20 parcelas de 20x20m,
###podemos verificar o padrão de dispersão dessa espécie, utilizando o Índice de Dispersão (razão variância / média)
ID.curso<-function(x)
{
id=var.curso(x)/media.curso(x)
return(id)
}
##Calcular o coeficiente de dispersão
ID.curso(dados.dens)
## quando o valor é próximo a 1 a distribuição é considerada aleatória.
## podemos fazer um teste de significância pela aproximação com o valor Qui-Quadrado
para verificar a significância dos dados
test.ID <- function(x)
{
dados=na.omit(x)
med=media.curso(x)
dev.quad=(dados-med)^2
qui=sum(dev.quad)/med
critico.qui<-qchisq(c(0.025,0.975),df=(length(dados)-1))
if(critico.qui[1]<=qui & critico.qui[2]>=qui)
{ cat("\t distribuição aleatória para alfa=0.05\n")}
else{}
if(qui < critico.qui[1])
{ cat("\t","distribuição agregada, p<0.025 \n")}
else{}
if(qui>critico.qui[2])
{ cat("\t","distribuição regular, p>0.975 \n")}
resulta=c(qui,critico.qui)
names(resulta)<-c("qui-quadrado", "critico 0.025", "critico 0.975")
return(resulta)
}
############
Exercícios
<box 100% left red | Exercício 7.3: QUE FRIO! > Construa uma função que calcula automaticamente o valor de graus Celsius, sabendo-se a temperatura em Fahrenheit.
C° = 5/9 * (F°(temperatura dada) - 32)
</box>
<box 100% left red | Exercício 7.4: Somatório do Primeiros Números Naturais > Construa uma função que calcula o somatório dos primeiros n números naturais.
Por exemplo se n=4 a função deve retornar o valor: 1+2+3+4. </box>
<box 100% left red | Exercício 7.5: Índices de Dispersão I > Existe uma série de índices de dispersão baseados em dados de contagem para verificar o padrão espacial de uma espécie.
Alguns deles são:
- Razão Variância-Média: ID = variância / média;
- Coeficiente de Green: IG = (ID-1)/(n-1);
- Índice de Morisita:
n = tamanho da amostra; xi= número de indivíduos na i -ésima unidade amostral
Construa uma função para cada um desses índices, assumindo como argumento os valores de xi. Aplique aos dados de caixetais, verificando a dispersão da árvores de caixeta em cada caixetal. </box>
Definindo Argumentos
Todos argumentos de uma função tem seu respectivo nome. Ao evocar a função podemos fazê-lo de duas formas:
- utilizando o nome dos argumentos em qualquer ordem;
- utilizando a ordem dos argumentos, mas omitindo os nomes.
> plot( col="red", pch=2, y=egr$ht, x=egr$dap ) > plot( egr$dap, egr$ht )
Para qualquer argumento podemos definir um valor default apresentando esse valor junto com argumento na definição da função:
> myplot <- function(..., col="red") { plot(..., col="red") }
> myplot( cax$dap, cax$h )
> myplot( ht ~ dap, data=egr )
O exemplo acima também mostra a função do argumento ”. . .”. Esse argumento representa qualquer argumento adicional que desconhecemos, mas que desejamos que seja passado para as funções dentro da função que estamos construindo.
Exercícios
<box 100% left red | Exercício 7.6: Gráfico de Whittaker > Faça uma função para construir o gráfico de diversidade de espécies de Whittaker: logaritmo da abundância contra a ordem (descrescente) da abundância das espécies. Construa essa função de forma que qualquer parâmetro gráfico possa ser alterado. </box>
Trabalhando com Funções mais Complexas
Um Aspecto Prático
Para saber qual é o editor padrão do R use o comando:
> getOption("editor")
[1] "vi"
>
Para alterar o editor padrâo use o comando:
> options( editor= "gedit" ) # Faz o editor "gedit" ser o editor padrão do R
No caso de editar sua função num editor externo ao R (p.ex., no arquivo 'minhas-funcoes.R'), você traz o código para dentro do R utilizando o comando “source”:
> source( "minhas-funcoes.R" )
É importante que o arquivo editado externamente ('minhas-funcoes.R') seja um arquivo ASCII sem qualquer símbolo especial.
Exercícios
<box 100% left red | Exercícios: Editando Funções Externamente >
Experimente definir um editor com o qual você consiga trabalhar ('gedit'?) e refaça os exercícios anteriores salvando todos os códigos num arquivo externo.
</box>
<box 100% left red | Exercícios: Índices de Diversidade de Espécies > Construa funções para computar os seguintes índices de diversidade de espécies:
* Índice de Shannon: H = - ∑ (p//i// * ln( p//i// ))
- Índice de Simpson: <latex> D = ∑(pi^2)
onde pi é a proporção da espécie i
Considere que o argumento de sua função será uma matriz com a abundância das espécies sendo as parcelas amostradas nas colunas. Considere a possibilidade de haver NA nessa matrix e a remoção dele. </box>
Realizando "Loops"
Em linguagem de programação um loop é quando você força um programa a executar uma série de comandos repedidas vêzes.
A estrutura de loop no R é:
for( "variável" in "vetor de valores")
{
comando 1
comando 2
comando 3
. . .
comando n
}
A palavra for é o chamado do loop. Dentro dos parênteses se define uma variável seguida da palavra in e um vetor de valores que a variável deverá assumir. Dentro das chaves se lista os comandos que devem ser repeditos a cada passo do loop.
Vejamos um exemplo: Convergência da distribuição t de Student para distribuição Normal Padronizada:
> #
> # Convergência da distribuição t de Student para distribuição Normal Padronizada
> #
> curve(dnorm(x), from=-4, to=4, col="red", lwd=6)
> for(gl in 1:200)
+ {
+ curve(dt(x, gl), -4, 4, add=TRUE, col="green")
+ }
>
No exemplo acima temos:
'gl' é a variável definida para o loop;'1:200' é o vetor de valores que a variável assumirá, logo, o loop será repetido 200 vêzes.
Exercícios
<box 100% left red | Exercícios: Loop para Demonstrar o TCL > Construa uma função para demonstrar o Teorema Central do Limite. </box>
Solução Vetoria x Loop
Sendo um ambiente vetorial os loops não são uma opção muito eficiente para computação dentro do R. Em geral, o R é mais eficiente se encontrarmos uma solução vetorial para problemas de computação que aparentemente exigem um loop. A solução vetorial, entretanto, costuma ser mais exigente em termos do tamanho de da memória RAM do computador.
Considere o problema o seguinte problema: temos a localização espacial de plantas num plano cartesiano com coordenadas (x,y). Por exemplo:
> x = runif(100) > y = runif(100) > plot(x,y)
O objetivo é obter as distâncias entre as plantas duas-a-duas. Primeiro consideremos uma solução através de loop:
inter.edist = function(x, y)
{
n = length(x)
dist <- c()
for(i in 1:(n-1))
{
for(j in (i+1):n)
{
dist <- c(dist, sqrt( (x[i] - x[j])^2 + (y[i] - y[j])^2 ))
}
}
dist
}
Consideremos agora uma solução vetorial:
inter.edist.v = function(x, y)
{
xd <- outer( x, x, "-" )
yd <- outer( y, y, "-" )
z <- sqrt( xd^2 + yd^2 )
dist <- z[ row(z) > col(z) ]
dist
}
Qual dessas soluções é mais eficiente em termos do uso do tempo?
> x = runif(100) > y = runif(100) > > system.time( inter.edist( x, y ) ) [1] 0.140 0.008 0.149 0.000 0.000 > > system.time( inter.edist.v( x, y ) ) [1] 0.008 0.000 0.009 0.000 0.000
Não tente rodar o exemplo acima com 1000 ou mais observações, pois o tempo fica realmente longo para versão em loop.
CONCLUSÃO: use apenas pequenos loops no R!!!
Exercícios
<box 100% left red | Exercícios: Tabela de Fitossociologia > Construa uma função que gera uma tabela de fitossociologia. Utilize os dados de caixeta (dados-caixeta) como teste. </box>
APÊNDICE: Tabela de Operadores do R
Outro aspecto formal importante da linguagem R é a ordem de prioridade de seus operadores. Além das regras de precedência usuais para as operações matemáticas, é essencial conhecer a prioridade dos outros operadores:
<box 80% red>
================================================================= OPERADOR DESCRIÇÃO PRIORIDADE ================================================================= $ seleção de componentes ALTA [ [[ indexação | ^ potência | - menos unitário | : operador de seqüência | %nome% operadores especiais | * / multiplicação, divisão | < > <= >= == != comparação | ! não | & && | || e, ou | ~ fórmula estatística \/ <<- <- -> = atribuição Baixa =================================================================
</box>
